domingo, 17 de março de 2024

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Squadron Of Corpses
: Zombies voadores?

Inovação: breve história dos exageros e fracassos: Tenho este livro na lista de leituras, e pela análise do Nelson Zagalo, vale a pena a sua leitura. Nem que seja para ajudar os constantes deslumbramentos com tecnologias, o que na área onde trabalho é uma constante.

5032) Há dez mil anos atrás: As línguas são entidades vivas, e por vezes os seus normativos escritos entram em conflito com os usos. Notem, o artigo não visa legitimar o falar mal, ou o dar erros constantes. Mas o português é uma língua que não facilita.

A marosca dos Prémios Hugo 2023: Com muito mais paciência do que eu teria para este caso, o João Campos mergulha a fundo na questão da auto-censura nos prémios Hugo. E o mais surpreendente, é que a censura veio da própria organização, e não de pressões externas do governo do país onde decorreu a WorldCon. Isto é pateta, muito pateta.

The Best Books by War Correspondents, recommended by James MacManus: Livros que destacam a importância do olhar jornalístico nas zonas de conflito.

Monty Python: Eric Idle Goes Public with Issues; John Cleese Responds: Vá, de vez em quando sabe bem um olhar para as tricas e intrigas dos famosos. Todo o texto se lê como um sketch dos Monty Python, com um forte lado de ok boomer.

Néon: Não me canso de o dizer, esta é uma das mais extraordinárias propostas de BD portuguesa recente, visualmente é um deslumbre, e a história está bem conseguida.

(Às) contas com almas penadas e diabos, bruxas e maus-olhados – Roberto Afonso: Um olhar para os mitos e tradições populares portuguesas ligadas ao fantástico.

Science Fiction in Radio: Vindas dos tempos em que a rádio era o mass media por excelência, estas gravações de narrações dramatizadas de contos de ficção científica são um mimo.


Fog Over Venus
: Naves retro.

How much electricity does AI consume?: A pegada carbónica da IA é uma questão que tem de ser discutida.

Portugal é o país que menos dados móveis gasta: Tendo em conta que as operadoras têm políticas de preços elevados e a concorrência entre elas é virtual, ou seja, oferecem pacotes similares com preços similares (é para todos os efeitos um cartel, mas não se fala disso), não surpreende este dado.

AI screw-up results in man being fined $400 for scratching his head: Mas o problema, aqui, não é da IA. É de quem gere a implementação de sistemas sob o princípio laxista de "se houver problemas, as vítimas que se queixem". É perfeitamente óvbio que se tivesse havido uma triagem prévia, isto não teria acontecido. O real problema da automatização é este. Não é a automatização em si, mas a forma como ajuda a sustentar práticas laxistas ou danosas que visam aumentar lucros vitimizando os utentes.

Scientific Journal Publishes AI-Generated Rat with Gigantic Penis In Worrying Incident: Acho que isto diz mais sobre o estado geral da publicação académica, que se traduz num frenesi de artigos para encher currículos, do que sobre a IA em si. 

Apple Vision Pro Users Reporting Headaches, Burst Blood Vessels: A surpresa, aqui, é haver quem se surpreenda por haver efeitos fisiológicos do uso destes sistemas. 

OpenAI's Sora Is a Giant 'F*ck You' to Reality: Bem, mas a questão não é nova. E suspeito que o Sora ande um pouco overhyped. Quando um sistema é demonstrado mas sem acesso de terceiros para se perceber o que realmente faz, se calhar não funciona tão bem como os seus criadores nos querem fazer parecer.

La polémica de Estopa y su portada apunta hacia un debate mayor: cuánta IA vamos a permitir en las ilustraciones: Suspeito que em parte esta polémica se esbata com o tempo. Agora, os medos são muitos, mas com o tempo vamos habituar-nos a usar a IA como mais uma ferramenta incorporada no fluxo de trabalho de criação.

The text file that runs the internet: A predação das iniciativas de captura de dados para treino de IAs veio dar um novo alento ao velhinho robots.txt.

Bluesky and Mastodon users are having a fight that could shape the next generation of social media: Essencialmente, uma luta entre normas abertas vindas da comunidade, e normas que prometem ser abertas, mas estão pensadas de acordo com propósitos empresariais.

How AI can make history: Geralmente olhamos para os LLMs como máquinas de responder a perguntas, e discutimos os seus maus resultados de forma generalista. Mas isso, é não perceber o real potencial destes modelos de linguagem. Com o seu pré-treino, deixados à solta em bases de dados restritas, são capazes de analisar rapidamente grandes quantidades de dados com elevado nível de fiabilidade, tornando-os uma ferramenta interessante na investigação histórica na automatização da análise de grandes bancos de textos do passado, permitindo encontrar novos padrões ou decifrar informação que se julgava perdida.

The EU opens a wide-ranging probe into TikTok: Não surpreende que a UE começe a olhar para este serviço. É interessante que um dos pontos ondem tocam é no seu lado aditivo, o que levanta uma questão interessante. Sabemos que as apps sociais estão concebidas para serem viciantes, e colocamos habitualmente o ónus de gerir o vício aos utilizadores. Mas e se se levantasse o espectro de legislar o desenvolvimento de apps, tornando a intencionalidade dos processos de adição legalmente regulada, tal como fazemos com as substâncias que causam adição, do álcool às drogas?

How AI Is Changing Music: Um artigo que surpreende. Se, na imagem, a IA Generativa se está a tornar num ciclo vicioso de pastiches e más estéticas, cada vez mais contestado pelos artistas, na música o caminho está a ser diferente. O medo de música automatizada não é prevalente, e os músicos estão a usar ativamente a IA para explorar novas sonoridades, impossíveis de obter com as formas tradicionais de tocar.


Ripe for Love
: Sensualidades retro-pop.

La vegetación se abre paso en Groenlandia. Evidentemente, es una pésima noticia: A Gronelândia tornar-se verdejante, não é uma coisa boa.

Archaeologists Discovered a Massive Ancient 'Megastructure' Submerged Beneath the Sea: Antes que comecem aos gritos de "antigos alienígenas" e "mistérios", convém recordar que o nível dos oceanos no passado não era tão elevado quando o de hoje, e muitas terras, povoações, existiam onde hoje se situam os mares báltico e o canal da mancha. É deste tipo de estruturas que se trata.

UCR NIA PEDE F-16 MAS PORTUGAL SÓ DÁ FORMAÇÃO DE TÉCNICOS: Bem, somos indiscutivelmente solidários com a Ucrânia, mas quem tem pouco, não pode dar muito.

“O professor Marcelo”, o escorpião: Bem, vejo que não estou só na visão do corrente PR como um quisto danoso na democracia portuguesa. Um herdeiro da ditadura que chegou a presidente via a sobrexposição nos media, um exímio representante do paternalismo elitista para com as pessoas.

Nation #36 Has Joined NASA's Moon Exploration Initiative: Podem ir procurar, mas não, não fazemos parte. 

Cais da Rocha Conde de Óbidos: o "Hidenburgo" em Lisboa: Zeppelins sobre Lisboa, é preciso dizer mais?

quinta-feira, 14 de março de 2024

O Caos e a Noite


Henry de Montherlant (1977). O Caos e a Noite. Lisboa: Editora Ulisseia.

Recordo ter ouvido falar deste romance nas sempre interessantes conversas do João Morales, e quando o apanhei nos desvios literários, dei asas à curiosidade. É um livro curioso, que nos reorda as feridas abertas da guerra civil de Espanha através da história de um personagem deveras idiosincrático. 

Décadas após o fim da guerra, o antigo combatente republicano Celestino Marcilio vive uma vida recatada como refugiado espanhol em França. Os seus dias são passados a discutir passado e política com um reduzido grupo de companheiros, que progressivamente aliena, enquanto escreve diatribes sobre a situação que acabam por não passar da sua gaveta. São impublicáveis, nem a imprensa mais radical lhes toca, e Don Celestino teme também vir a ser expulso e deportado para as garras do franquismo.

Celestino vive consumido por uma guerra que já terminou, entre medos, memórias e revolta. A pureza ideológica de anarquista é o seu norte, embora lhe escape a ironia de ser um anarquista qie vive de rendimentos finaceiros geridos de forma sábia e nem sempre honesta por outro espanhol. Resume a sua vida de pequeno-burguês convencido de que é revolucionário aos cafés, à filha e á criada.

Tudo muda quando lhe chega a notícia de que a irmã morreu, e terá de ir a Madrid tratar de questões de herança. Celestino entra em paroxismos de terror, embora se resigne à ideia do regresso. Teme, a todo o momento, ser capturado pelos franquistas, detido e torturado pela polícia. Mas nada acontece, e o perceber que afinal não é tão importante quanto imagina deixa-o ainda mais paranóico. Depois de uma tourada, um espetáculo desejado mas que Celestino percebe ser de uma sordidez patética, chegará o seu fim inglório, às mãos de um ataque cardíaco no quarto de hotel.

Uma história patética, de um homem que vive tão embrenhado e atemorizado pelo seu passado, tão imerso nos seus ideários, que a vida lhe passou ao lado. E que, ao perceber com o seu regresso à pátria, todo o sangue derramado são memórias esquecidas, que a sua luta já de si inglória foi descartada, se reduz ao nada. O triste resultado de uma vida passada entre caos e a fuga na noite.

terça-feira, 12 de março de 2024

O Nosso Planeta Assombrado


John Keel (1971), O Nosso Planeta Assombrado. Queluz: Dêagá.

Daquelas aquisições aleatórias de bancada de alfarrabista, vindo de uma coleção antiga de livros de FC. Claro, de científico este não tem nada, é um arrazoado de bizarrias, acasos, alucinações, vigarices e más interpretações históricas e arqueológicas, tudo o que cai sob a alçada de "mistérios do passado". Este tipo de livro fazia as delícias dos leitores mais néscios naqueles velhos tempos onde não havia internet para espalhar teorias da conspiração, nem documentários manhosos do Canal História para propalar visões "alternativas" da História, entre a pura vigarice e a alucinação mental. Por vezes, estes livros até se tornam divertidos pela sua bizarria, apesar de raramente bem escritos (conceitos como lógica, elegância de escrita e capacidade de encadeamento de ideias são, obviamente, instrumentos do establishment para censurar o pensamento livre, como bem sabemos). Não é o caso deste, que para além das patetices e bizarrias, assenta numa posição fortemente anti-ciência. E h0je, todos sabemos no que isso está a dar, dos extremismos políticos às pessoas que almejam o prémio darwin pela sua crença nos malefícios da vacinação. Quando o maluquinho delira sozinho, até se tolera, mas quando o delírio se torna social, temos um problema grave em mãos.

Nota: não resisti à gargalha com um dos "factos" do livro. Ora, não sabia que nos anos 50 a Figueira da Foz foi atingida por uma terrível onda de calor súbito, com temperaturas a chegar aos 70º e mortandade a condizer. Algo que, se de facto tivesse acontecido, estaria na nossa  memória histórica. Um pormenor que enquadra bem o tipo de patranhas em que estas teorias da conspiração assentam.

domingo, 10 de março de 2024

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Buster Crabbe and Gil Gerard in Buck Rogers in the 25th Century (1979)
: Um crossover entre o clássico Flash Gordon e Buck Rogers?

5030) "O Barão nas Árvores": Volteios com o fantástico que sustenta a obra de Calvino.

The Telling na constelação de Ursula K. Le Guin: Olhares para a obra inesgotável desta Grande Dama do fantástico literário.

Martin Scorsese May Hate Comic Book Films But Now Has A Graphic Novel: E, ainda por cima, autobiográfica. Mas será curioso ver como um realizador transmuta a sua estética cinematográfica para um meio cuja gramática visual tem muito de comum com o cinema.

5031) Uma biblioteca ou uma livraria?: Claramente a primeira, mas se traduzirmos para inglês, perde-se a distinção direta.

o fim do fim de um país: Um olhar doloroso para a desagregação da Jugoeslávia, sob o ponto de vista de uma vítima da guerra e das limpezas étnicas.

Dylan Dog: Picada mortal: Ainda não li, mas espero ter isso resolvido em breve. Como bom dylaniati que me considero, uma edição portuguesa do detetive dos pesadelos é imperdível.

ESPECIAL - EVENTOS - Hispacómic: Salón del Cómic Hispano-Portugués: Este evento parece interessante, cruzando a BD de cá e de lá em Sevilha. Fica relativamente próximo, a vontade de lá ir dar um salto é grande, mas infelizmente, já tenho outros compromissos.

Batman Takes on the Ultimate Villain: Darth Vader!: O crossover que nunca imaginariam conseguir ver, cortesia de um youtuber. Com uma surpreendente qualidade. Spoiler, que nem é assim muito spoiler, dado os personagens. Batman vence. Batman vence, sempre.


Dean Ellis cover art for “Popular Science
: Faz o Osprey parecer seguro.

WhatsApp confirma el mayor cambio de su historia: será compatible con Telegram y otras apps de mensajería: Mas, antes que pensem que esta medida parte do engenho e boa vontade destas empresas, reparem que é em resposta a uma imposição da UE, que está a obrigar à interoperabilidade entre serviços.

Israel's Military deploys AI technologies in Gaza Conflict: Não estamos a acompanhar o suficiente a forma como os israelitas usam a IA como arma de combate. Provavelmente vai muito mais além do que o dar caça a drones e o mapeamento de túneis.

The return of the (robot) travel agent: Usar a IA para programar viagens parece mais um prego no caixão das agências de viagem. Mas, há que guardar as devidas distâncias, e perceber que a IA apenas age sobre informação online, e todos sabemos o quanto esta pode ser enviesada, entre travel influencers a sobreestimar o banal a trolls das críticas que tentam destruir negócios.

After Breakups, the Brokenhearted Are Creating AI Clones of Their Exes: Tendo em conta o quão dolorosa pode ser uma separação, será mesmo boa ideia esta recriação virtual dos ex? 

Three Students, Using AI, Decipher Text From Ancient Papyrus Carbonized In Mount Vesuvius Eruption: É de um absoluto fascínio, o ler palavras que se julgavam para sempre perdidas.

Google’s Gemini is now in everything. Here’s how you can try it out: A jogada da Google nos domínios da IA Generativa começa a ganhar força.

Google’s use of student data could effectively ban Chromebooks from Denmark schools: É algo que não se fala, por cá, onde as escolas dependem massivamente dos serviços Worspace ou M365. Suspeito que que o RGPD cá fosse levado tão a sério como noutros países, a situação seria caótica para muitas escolas.

The fediverse, explained: Uma introdução bem humorada ao Fediverso.

In Defense of Anthropomorphizing Technology: Somos humanos, e gostamos de humanizar as nossas tecnologias.

The Usage Of Embedded Linux In Spacecraft: A exploração espacial depende da resiliência do software livre.

Bringing Art into VR: Um interessantes vislumbre sobre o fluxo de trabalho e as técnicas que permitem recriar obras de arte em ambientes tridimensionais de realidade virtual.

AI Is Everywhere—Including Countless Applications You’ve Likely Never Heard Of: Apesar de todo o hype com a IA Generativa, as aplicações mais interessantes e com maior impacto económico são aquelas que são menos visíveis.

McDonald’s Making Job Applicants Take Weird AI Personality Tests: Quando penso nos perigos do uso não-regulado de IA, este é o tipo de iniciativas que me vem à mente.


Dr. Skull
: Há sempre um pretendente a Fu-Manchu.

Autism’s Cult of Redemption: My Adventure Searching for Help for My Son’s Autism Diagnosis in the World of Alternative Medicine & Anti-Vaxxers: Um mergulho nos alucinados dislates dos proponentes de medicinas "alternativas" e anti-vacinação.

Praça do Comércio: «Lisboa e Madrid começam a conversar pelo telefone»: Futurismos do passado lisboeta, ou quando uma nova tecnologia chegou à cidade.

Si superas el límite más de 50 km/h, te quedas sin carné: la UE quiere declararle la guerra al exceso de velocidad: Se, por um lado, é inegável discutir a importância de medidas de combate à sinistralidade rodoviária, por outro é algo inquietante ver a forma como é proposto que uma sanção num país seja automaticamente estendida a todo o espaço europeu.

Colossus of Constantine returns to Rome: Uma estátua colossal romana, reconstituída.

Neocolonial ISDS, Abused, Biased, Costly, and Grossly Unfair: É das mais injustas manobras legais que deixam países inteiros reféns da rapacidade de investidores, que podem exigir compensações caso as leis dos países interfiram com os seus lucros.

El Banco de Noruega perdió 86 millones de euros por un error de excel. Un trabajador se equivocó de casilla: O interessante nesta notícia é a reação do banco perante este erro. Os responsáveis não foram despedidos, e a história é usada como um exemplo da cautela que se tem de ter ao trabalhar com folhas de cálculo.

The Art World Excludes Most Of Us: Um divertido desmontar do elitismo do mundo artístico, que assenta na ideia de lucrar com o conceito de exclusividade.

Las narcolanchas dominan el Estrecho, pero el epicentro de su industria está en otro sitio: Galicia: Com envolvimento português, dado que um vazio legal em Portugal possibilita a construção deste tipo de lanchas, proibido do lado de lá da fronteira.

‘Bad News’ for Humanity: A Critical Climate System Could Collapse Sooner Than We Thought: Essencialmente, a corrente atlântica que torna a Europa um continente temperado está a ser seriamente afetada pelo aquecimento global.

Nothing Personal: The Back Office of War: A banalidade do negócio da guerra.

Introducing a new type of tradeable security whose price fluctuates based on the output of a random function: Bem, mais uma brincadeira perigosa para os que gostam de brincar com o dinheiro. Esta, pelo menos, assume uma total aleatoriedade.

Harrison Schmitt puso un pie en la Luna en 1972. Acto seguido descubrió que era alérgico a ella: Das barreiras que o regolito poderá trazer à futura presença humana na Lua.


Did art exist before modern humans? New discoveries raise big questions: A longa história das origens mais antigas da arte.

quinta-feira, 7 de março de 2024

Tomie Volume 2


Junji Ito (2024). Tomie Volume 2. Lisboa: Devir.

É um marco, para os leitores portugueses, a edição completa de Tomie traduzida para português pela Devir. A série do inigualável Junji Ito é um dos grandes clássicos do manga de horror, e sem dúvida bem conhecida pelos fãs quer da BD japonesa, quer do j-horror. Faltava esta tradução, garantindo uma maior acessibilidade de uma obra clássica e incontornável. 

Recordo Tomie como um dos meus primeiros recontros com o manga de terror, e deixou-me seduzido às primeiras páginas. Como resistir a esta sedutora adolescente, que incorpora a iconografia de discreta Lolita, e que é na verdade um espírito malévolo que se compraz em levar à loucura os homens e mulheres com que se cruza? Se o lado perturbador da óbvia atração sexualizante sobre adolescentes sentida por homens vos escapou, diria que é mesmo o cerne do horror de Tomie. Começa mesmo por aí, e mostra a capacidade perversa de Ito no brincar com iconografias, tabus e emoções.

Tomie é muito mais do que isto, e depressa decai para extremos de loucura, com grafismos intensos e viscerais. A cada nova história, somos surpreendidos com uma diferente obessão, com inesperadas escatologias e um terror implacável. Tomie existe para enlouquecer, jogar com sentimentos, obcecar, transformar pacatas pessoas em assassinos que a desmembram. Imperturbável, sedutora, implacável, Tomie está a agora mais acessível aos leitores portugueses.

terça-feira, 5 de março de 2024

Dylan Dog: Picada Mortal


Alberto Ostini, Francesco Ripoli (2024). Dylan Dog: Picada Mortal. Lisboa: A Seita.

É sempre bom regresar a Dylan Dog, algo que por cá só se consegue após idas fugazes a Itália, ou nas edições com que A Seita nos brinda.  Esta proposta, que publica em portuguès uma aventura do detetive dos pesadelos saído da coleção Old Boy, é uma aposta segura. Os Dylan Dog Old Boy focam-se no espírito clássico do personagem, replicando um estilo mais antigo, e afastado dos caminhos da série principal (que têm causado palpitaçóes cardíacas profundas em muitos fãs, mas isso creio que se pode atribuir mais à incapacidade intelectual destes, que não compreendem que um personagem pop evolui e não se mantém igual ao que era nos anos 80, do que a reais desmandos feitos sobre o unverso ficcional dylaniati).

As melhores histórias de Dylan Dog são aquelas que mantém até ao fim a ambiguade entre o natural e o sobrenatural, em que os acontecimentos apontam para a influência de forças estranhas, mas que acabam por se revelar como nada sobrenaturais, mas nem por isso menos violentas. Ostini mantém essa ambiguidade nesta aventura em que Dylan regressa a um amor de adolescência, e a uma cidade aparentemente assolada por um assassino em série, que o desenrolar da narrativa irá mostrar que está mais ligado a alucinações induzidas do que na figura real de um psicopata. Grande spoiler? Bem, se são daqueles que lêem para saber como acaba a história, confundem o destino com a viagem.

Uma boa proposta da Seita, que aquece o coração dos fãs deste personagem de fumetti, infelizmente menos conhecido do que deveria ser.

domingo, 3 de março de 2024

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“Local Networks,” Robert Tinney’s
: Redes.

Hi! Long time sci-fi fan (read old man). Do you think you could find the original dust cover art for J. G. Ballard’s book, The Crystal World,“ and post it, please: Da ligação entre o surrealismo e a ficção científica.

Sílvia Reig: “Uma colecção como os Clássicos da Literatura Portugueses em BD é um esforço enorme”: Mas, também, meritório. Vai ficar como referência na história da BD portuguesa.

Eight Billion Genies – Charles Soule e Ryan Browne: Apesar de gostar do trabalho de Soule, confesso que a mim esta série me cansou, a premissa é brilhante mas esgota-se depressa.

The Impending Blindness of Billie Scott, ou um ensaio sobre a cegueira segundo Zoe Thorogood: Novos criadores com propostas arrojadas, e a capacidade gráfica de as levar avante.

Looking for the First Science Fiction Story: De volta e meia, lá regressa a discussão sobre que textos devem ser considerados como os primeiros da ficção científica.

Threads is a gripping, miserable experience: Um filme clássico e arrepiante, daqueles que fez mais para despertar o grande público para a loucura da guerra atómica do que muitos discursos inflamados.

Leituras da semana (#03 // Fev 05, 2024): Apontamentos do (bem regressado ) John Raynes ao mundo da escrita online. Irá, certamente, haver sobreposição de leituras.

5029) As armadilhas da língua: Do prazer dos trocadilhos e jogos linguísticos, um a que eu não resisto.

The Best J. G. Ballard Books, recommended by Mark Blacklock: Pessoalmente, coloco Ballard na galeria dos mais importantes escritores do século XX, pela lente inesperada e desapiedada que nos colocou para analisar a modernidade sua contemporânea.


jca-archive: Ichiro Tsuruta, from JCA Annual 3 (1980)
: Planetas em proximidade.

Space Force Finally Launching a Single Employee Into Space: Ainda estamos longe dos starship troopers. Ou dos space marines.

Airbus contrata una Starship para lanzar su estación espacial privada. Es el único cohete en el que cabe entera: Com o fim da vida útil da ISS a aproximar-se, esta será a próxima estação espacial ocidental em órbita.

Doom Runs on E. Coli Bacteria Now: Porquê? E porque não é a resposta.

Apple's Vision Pro will have Microsoft Teams, Word, Excel and other 365 apps at launch: Sou só eu que acho imensamente depressivo enfiar um HMD de realidade virtual na cabeça para ir trabalhar em documentos e folhas de cálculo?

AI in Politics Is So Much Bigger Than Deepfakes: O real problema dos deepfakes não é o conteúdo falso em si, mas sim o clima de desconfiança que cria. Deixamos de confiar no que vemos, sabendo que hoje é trivial gerar texto, imagem e vídeo recorrendo à IA.

Cops bogged down by flood of fake AI child sex images, report says: Não surpreende,  infelizmente. O risco aqui está na normalização destas iconografias, que poderá levar ao crescimento do despoletar de comportamentos de abuso sexual.

‘There is no such thing as a real picture,’ says Samsung exec: Sim, de facto, se levarmos à letra que uma foto é sempre uma captação do real cuja fiabilidade depende dos sensores, algo que os fotógrafos desde sempre souberam aproveitar para explorar novas estéticas. Hoje, a democratização da fotografia digital faz-se numa combinação de software de processamento de imagem. Se se perguntam porque é que diferentes modelos telemóveis tiram fotos com aspecto diferente às mesmas cenas (vejam as reviews comparativas aos telemóveis topo de gama para verificar isso), isso tem tudo a ver com o software que o fabricante desenvolve para processar os dados da câmara.

Google Has Officially Killed Cache Links: Liberta-se espaço de servidor, mas perde-se a memorializaçáo da internet.

TikTok in Shambles Now That Videos Can’t Use Popular Music: A próxima batalha entre old media e new media trava-se nas profundezas do Tik Tok. 

My McLuhan lecture on enshittification: Doctorow é um veterando, à décadas que assume um ativismo militante pró-direitos digitais e pró-liberdade digital, num constante apontar das más consequências da rapacidade empresarial e do seu afã em lucrar com todos os meios, mesmo que isso danifique de forma irreparável a base que lhes permite lucrar.

Apple Vision Pro review: the infinite desktop: A Apple foi cuidadosa, e a sua proposta de HMD não segue os caminhos tradicionais da realidade virtual, apostando mais na realidade mista.

Can It Be Done? This 1930s Comic Strip Imagined a Gadget-Filled Future: Há que admirar o otimismo do retrofuturismo.

The Red Stuff: Um olhar para o legado soviético nos primórdios da exploração espacial.

El 52% de Etiopía no tiene acceso a la luz. El Gobierno va a prohibir la venta de cualquier coche que no sea eléctrico: Bem, certo, o que dizer? 

O mapeamento espacial 3D dos Vision Pro: Parece incrível, até nos recordarmos que a Apple já há anos que testa e aprimora estas capacidades com os sensores lidar TOF dos iPhones das versões Pro.

Llevo años probando alternativas a Google. Ninguna me ha convencido tanto como Perplexity: É de facto uma ferramenta interessante, que cruza o output de vários LLMs.

Your Phone Is Not Listening to You: Perante realidades complexas, preferimos mitos simples. A arrepiante pontaria dos anuncios online não se deve à captura livre do que falamos, mas sim da análise intrusiva da nossa pegada digital.

Hay gente usando las Vision Pro por la calle. Esta película ya la hemos visto con los 'glassholes': Pessoalmente, não dou grande valor a estes vídeos. São claramente de wannabe influncers à caça de ondas de popularidade em redes sociais. E nada mais fácil para o tentar do que epxerimentar o choque.

Pluralistic: How I got scammed (05 Feb 2024): É de admirar a frontalidade de Doctorow, a maioria não admite publicamente que foram alvos de esquemas bem sucedidos. A história dele é sintomática, não da sofisticação dos ataques, mas da forma como a saturação do dia a dia podem ser o elemento que nos leve a baixar a guarda.

IDF Admits It Ran Gory Telegram Calling Palestinians ‘Roaches’ to be ‘Exterminated’: Se a evolução da sociedade digital nos ensinou algo, é a forma como as redes abertas e livres são capturadas por estados e grupos que querem estabelecer agendas de propaganda violenta.

4chan daily challenge sparked deluge of explicit AI Taylor Swift images: Ah, lembram-se quando o moot da 4Chan era elogiado pela Wired, pelo trabalho neste fórum anónimo?

Apple Vision Pro Users Have Discovered a Fatal Flaw: No VR Porn: Ah, a ideia de que ao partilhar o espaço físico com alguém imerso em VR, este possa estar a explorar as suas mais profundas manias e taras, não sei porquê, soa fortemente desconfortável.

AI can now master your music—and it does shockingly well: Demorou um pouco mais, mas a entrada da IA na música é inevitável.

AI Launches Nukes In ‘Worrying’ War Simulation: ‘I Just Want to Have Peace in the World’: Não há um filme clássico dos anos 80 sobre isto? Wargames, se não me falha a memória? Meter IAs a jogar domínio global não é boa ideia.

1960s Debate: Copyrighting AI Art: Um curioso paralelo com as discussões que hoje temos sobre a IA Generativa, de quando se começou a usar algoritmos para gerar objetos artísticos.


Colin Hay
: Cataclismos.

Onlyfans: uma realidade destrutiva promovida pela pornografia neoliberal: Certíssimo. Por detrás da imagem desta plataforma como "empoderadora" da mulher, oculta-se uma realidade de mero mercado de carne, de objetificação extrema do corpo feminino, de um trabalho que não tem a dignidade e a liberdade que as legiões de influencers, todos à cata da hipótese de ganhar a lotaria dos likes, fingem ter.

Making as a Creative Practice: É mesmo o que mais seduz na cultura maker, os aspetos de criatividade potenciada por tecnologia e conhecimento, o espírito de experimentar fora de espartilhos.

To Fight Populism, Invest in Left-Behind Communities: Se se perguntam porque é que a extrema direita, o velho fascismo agora rejuvenescido com o botox do populismo, estão a crescer tanto em popularidade, a resposta está aqui. Nas últimas décadas a política tradicional tem, essencialmente, dado rédea larga aos interesses económicos, e muitos, demasiados, estão a ficar de fora, empurrados para pobreza, precariedade laboral, ficar sem abrigo apesar de terem rendimentos de trabalho, uma classe média sufocada pela inflação imposta pelas cadeias de distribuição e pelos bancos. O que é que temos a perder se apoiarmos os sempre incoerentes, nitidamente desonestos, políticos que se especializam no gritar e barafustar enquanto fazem apelo a visões distorcidas de tradição e identidade? Se o sistema tradicional não nos oferece as garantias que diz oferecer, se as vidas das pessoas comuns não são percecionadas como melhores, que razão há para manter o apoio nos partidos tradicionais? Claro, o problema deste abanar o barco é que dar poder aos populistas levanta o espectro de desmandos, e abertura do caminho do desmantelamento das poucas medidas que ainda protegem as pessoas, tal como os argentinos andam a descobrir depois de elegerem um alucinado.

What the UK Would Look Like, if Designed to Prioritize Cars: Um reductio ab absurdum que espelha demasiado bem as problemáticas de um urbanismo centrado na mobilidade por automóvel.

Davos: high altitude, low impact: É uma espécie de burning man dos ultra-ricos, onde o nível de desconexão com os problemas reais é estratosférico.

Meet Me in the Eternal City: Os desvarios daqueles que gostariam de se livrar do contacto com o resto da humanidade, especialmente das suas leis e impostos para o bem comum.

quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Sandokan: O Pirata da Malásia


Emilio Salgari (2011). Sandokan: O Pirata da Malásia. Lisboa: Babel.

Sandokan é um nome mítico da minha infância, embora já tenha nascido demasiado tarde para ser um espetador da série clássica que encantou a geração que me precedeu. Mas mais do que uma série televisiva clássica, foi uma série de livros de aventura saídos do imaginário de Emilio Salgari. 

As aventuras do Tigre da Malásia e seus irredutíveis piratas de Mompracem é um típico produto de literatura empolgante de outras eras, onde os exotismos da Ásia distante e o lado selvagem das ilhas indonésias cativavam o imaginário. As histórias de aventura, de piratas que eram nobres nos seus combates contra forças da ordem e lei que na verdade eram corruptas, o fascínio desse caldeirão de povos, civilizações, imperialismos e promessa de aventura que era o extremo oriente no século XIX. 

Nesta aventura, Sandokan irá enfrentar um dos seus piores inimigos, o rajá inglês do Sarawak, caçador e exterminador confesso dos piratas malaios. Enfrenta-o, não por vingança ou ódio, mas para ajudar um casal apaixonado. A história tem todos os ingredientes: fuga aos Thugs indianos, ataques navais e abordagens em alto mar, conspirações locais, aparentes derrotas dos heróis e um triunfo final que recompensará os heroísmos. Um excelente exemplo da ficção de aventuras clássica, escrita para estimular as sensibilidades dos jovens do passado.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

A Sombra do Campanário


Robert Bloch, Ray Bardbury (1969). A Sombra do Campanário. Lisboa: Editoria Panorama.

Dois grandes mestres do conto clássico de FC e Fantástico, a mostrar bem aquilo de que eram capazes. O tema é o terror, e as suas abordagens são diametralmente diferentes. Robert Bloch veste a camisola da sua admiração por Lovecraft, com contos diretamente inspirados nos Mythos,mas também dá toques no estilo clássico, algo vitoriano, do mito aterrorizador ambiental. Já Bradbury demonstra o porquê de se ter tornado figura maior da literatura, além do género. Os seus contos são pérolas narrativas, simples nos temas e linguagem, mas complexos na forma como conduzem o leitor e o surpreendem, sempre. Bradbury tem um lado traquina na sua ficção de terror, não escolhe o grand guignol e o barroquismo, antes, é igual a si próprio - histórias comedidas onde o sobrenatural toca na banalidade do dia a dia.

domingo, 25 de fevereiro de 2024

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No More Barriers: Tanta tecnologia futurista e bastaram umas setas.

A Passagem Impossível: Um livro que está na lista de leituras, representativo do legado de um dos grandes mestres da BD portuguesa.

The Toys We Always Wanted But Never Could Have: O meu brinquedo sonhado mas nunca conseguido da minha infância? O modelo do Space Shuttle da Playmobil (espera, agora és adulto, tens algum dinheiro extra, existe a amazon e o ebay... se calhar cumpro um dos sonhos do meu eu de nove anos).

Historical Fiction, recommended by Historians on Five Books: Normalmente, o Five Books fica-se por cinco livros, mas nesta lista arriscou e foi muito mais extensivo.

Melhores Leituras de 2023 – Banda Desenhada: Os melhores livros de BD do ano de 2023, de acordo com as leituras da Cristina. Temos bastantes títulos em comum, diria. E, também, fui avassalado pelo mais latecomer dos livros de BD portuguesa do ano passado, o genial Neon de Rita Alfaiate.

The Best Books by Arthur C. Clarke, recommended by Paul March-Russell: Clarke representa aquele marco clássico da FC, entre a esperança em futuros racionais e a fé na ciência.

Sete Andares (1937): Olhar para um conto curto de Buzzati.

Regresso ao Cinepop: Desta temporada, destaco o Sleeper de Woody Allen, uma comédia clássica com recortes de ficção científica. Que, pergunto-me, dada a evolução de Allen e o mundo contemporâneo, se terá aguentado o teste do tempo.

The Ten Most Influential Science Fiction & Fantasy Anthologies/Anthology Series: Estas listas são sempre relativas, mas, tendo colocado de fora a Mirrorshades, que despoletou o cyberpunk, fico um pouco desapontado.


Uncredited 1970 cover art
: Toque de Borges.

Instagram e Messenger impedem mensagens de estranhos a menores: Demorou anos e artigos condenatórios, mas finalmente implementaram algo que, obviamente, desde sempre deveria ter feito parte das redes sociais.

Meta’s Anti-Nudity Algorithms Go After AI Artists: O prurido puritano da meta com qualquer visão de pele considerada excessiva sempre pareceu um pouco ridículo. Claro, faz sentido bloquear pornografia, mas demasiadas vezes o que é bloqueado não tem nada a ver com isso. E é particularmente patético dado que noutras áreas, como a proteção dos utilizadores menores, a Meta nunca demonstrou similar zelo.

Google’s Hugging Face deal puts ‘supercomputer’ power behind open-source AI: Uma curiosa aliança, entre o poder computacional da Google e os modelos abertos da HF. Suspeito que a Google sairá a ganhar, com a experiência trazida pela comunidade open source.

NASA's Mars Helicopter Has Died: A pequena aeronave que superou todas as expectativas.

Railroad workers have solved the trolley problem. “‘Slip the switch’ by flipping: Esta solução em modo de piada para o problema do elétrico mostra bem o potencial de olhar para uma dada situação sob outros pontos de vista. O que parece eticamente insolúvel, é trivial para quem opera carris.

The Mac turns 40 — and keeps on moving: Comemorar os quarenta anos do macintosh.

The Life of a Data Byte: Uma intrigante viagem pela história dos meios de armazenamento digital.

These 8 Raspberry Pi attachments radically expand its powers: Não tenho uma boa relação com os Pi, não consigo tirar partido deles da mesma forma do que com os micro:bit, e perante disponibilidade de tablets e computadores, não faço muito de um computador que preciso de encontrar monitores e teclados para o usar. Notem que não estou a denegrir o projeto, os Pi são máquinas fabulosas, apenas a confessar a minha frustração com eles.

Worries About AI Deepfakes Changing The Past: Sim, a geração de imagens tem este potencial, mas reparem, o tema não é novo. Alterar registos de imagem para modificar a percepção do passado é uma técnica clássica de manipulação, e notavelmente bem conhecida a história dos apagões sucessivos às fotos oficiais durante o estalinismo, à medida que os heróis da revolução iam sendo condenados por traição a Estaline. Tudo o que a IA Generativa faz, é acelerar estes processos.

Y al noveno día, resucitó: cómo Japón ha logrado recuperar la misión lunar que creíamos perdida: Uma excelente notícia para a exploração lunar.

Three ways we can fight deepfake porn: A terceira, legislar e fazer cumprir as leis, parece-me a mais fundamental. Porque confiar em meios meramente técnicos para resolver problemas morais raramente funciona.

Facebook Approves Disgusting Pro-Anorexia and Drug Ads Targeted at Teens and Made With Its Own AI: Isto só surpreende, ou choca, quem não presta atenção nem às andanças da IA nem às da Meta. Sim, ultrapassar os filtros de geração de conteúdo dos algoritmos de IA Generativa é possível. E sim, o foco da Meta é no lucro e não na seguruança dos seus utilizadores.

The Rise of Techno-authoritarianism: O problema da sociedade digital, extremamente bem analisado - vivemos uma de facto ditatura imposta pelos donos de grandes empresas, que dominam os seus mercados, esmagam potenciais concorrentes e se sentem no direito de ditar políticas públicas e sociais, com um grau de influência sobre o público elevadíssimo. Não é por acaso que as nossas sociedades democráticas andam tão seduzidas pelos populismos autoritários. As pessoas habituaram-se à tirania dos media digitais.

The World’s First Microprocessor: F-14 Central Air Data Computer: Quem diria, o lendário caça foi também um pioneiro da computação. Os seus sistemas incluíam um microprocessador que precedeu os da Intel, mas isso foi mantido em segredo militar.

Why the AI Boom is a Windfall for Tiny Anguilla: E, com a experiência dos erros cometidos por Tuvalu, está realmente a beneficiar desta bizarria do nome de domínio nacional.

An AI-Generated Content Empire Is Spreading Fake Celebrity Images on Google: Do mais puro chico-espertismo, esta inundação de conteúdos falsos.


Buck Rogers in the 25th Century (1979). Poster art by Victor Gadino
: Vintage dos anos 80.

2023 letter: Estas cartas anuais permitem um vislumnbre mais profundo sobre a China do que aquilo que os media normalmente veiculam. Especialmente interessante pela nota de insatisfação dos jovens chineses com a sociedade em que vivem, e pelos erros sucessivos da administração de Jinping.

Global Media: os nomes por detrás do fundo que fez reféns os salários dos trabalhadores: Quase provoca dores de cabeça, ler sobre as intricadas teias que ofuscam quem lucra com o fundo de investimento que está a afundar a TSF e o JN.

‘On My Way to Blow Up the Plane’: Teen Faces Huge Fine After Joke Leads to Fighter Jets Scrambling: É sempre preocupante ler sobre estas respostas de excessivo zelo ao que não passa da habitual parvoíce adolescente. Ainda por cima, dado o completo quadro de invasão de privacidade. Mesmo admitindo que por razões de segurança é seguro ler o conteúdo de mensagens enviadas dentro da rede wifi de um aeroporto, esta é daquelas óbvias situações em que qualquer um com dois dedos de testa olharia para o culpado das mensagens, e perceberia que não passava de uma piada inconsequente. Em vez disso, cria-se uma situação que obriga ao despacho de caças de combate e mete-se um adolescente na cadeia por uma simples piada.

Absuelven al joven que provocó el despliegue de un caza español. La pregunta es cómo interceptaron su mensaje: Felizmente, neste caso, o tribunal espanhol teve dois dedos de testa e tomou a decisão correta. E deixou no ar uma pergunta muito incómoda: como é que isto foi possível, como é que as mensagens de um adolescente enviadas em redes privadas são tão visíveis para as agências de segurança?

The Etsy Sellers Getting Sued for Using a Smiley Face: Dos abusos da legislação sobre direitos de autor.

Reconsidering “Rhapsody In Blue” As It Turns 100: Uma sinfonia que continua tão encantadora, hoje, como o era quando foi composta.

Paper Tickets Are Being Replaced By QR Codes. We’re Losing Something: Em essência, memorialização, o pequeno memento tangível das idas ao teatro ou cinema. E, no meu caso, marcadores de livros. Já se foram os bilhetes de comboio, os de metro, agora os de cinema. Um destes dias vou ter de começar a usar verdadeiros marcadores de livros, está-se mesmo a ver.

Can AI Be Better at Art History Than Us?: Por vezes, cansa, ler este tipo de títulos simplistas. Especialmente quando o seu conteúdo nega a preguiça intelectual do título. A IA está a tornar-se em mais uma ferramenta de análise da história de arte, trazendo novos pontos de vista, mas complementando o trabalho do historiador, não o substituindo.

Is This Peak Cute? See Inside a London Show Exploring Our Cultural Obsession With the Adorable: Algo me diz que esta exposição é particularmente querida dos instagrammers.

Laurie Anderson Loses German Professorship Over Pro-Palestine Letter: Uma dica, caros alemães. Lá porque os vossos avós foram ums tremendos filhos da mãe para com o povo judaico, não significa que tenham de aceitar sem críticas as políticas do estado de Israel. A culpa do Holocausto não se expia fechando os olhos ao genocídio palestiniano.

One Texas Teacher Features A Secret Shelf Of Banned Books – And Her Students Love It: Ações de guerrilha intelectual.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Zorba the Greek


Nikos Kazantzakis (2016). Zorba the Greek. Londres: Faber & Faber.

Devo dizer que não esperava demorar tanto tempo de volta deste livro. Li as primeiras páginas num local privilegiado, no tombadilho de um ferry que atravessava o golfo Sarónico em direção a Egina. As palavras medidativas de Kazantzakis, aquelas primeiras páginas lidas sob os azuís do céu e do mar,  sob o sol que tisna o solo grego, ficaram como memória de viagem (em erasmus, e por isso acompanhado por outras nacionalidades, guiados pelas minhas simpáticas colegas gregas). Não se revelou uma leitura fulgurante. Apesar da prosa fluída, é um livro de meditação pesado, daqueles que tem de ser com calma, porque o turbilhão de ideias nele contido leva-nos de enxurrada.

Há uma constante e profunda tensão nesta obra que se inicia num cais chuvoso no inverno mediterrânico, e termina nas águas plácidas de Egina (recordo o momento na viagem em que um dos colegas gregos me toca no braço, e aponta para o casario da ilha, dizendo-me que o navio estava a passar mesmo em frente da casa do escritor cujo livro segurava). A tensão decorre entre dois espíritos, o da experiência física da vida, e a frieza da lógica e do raciocínio. Se a exuberância de Zorba é cativante, fulgurante na sua coragem, espontaneidade, veemência das emoções, esta é temperada pela reflexividade do narrador. O romance entretece-se à volta dessa dicotomia, na forma como se confrontam e complementam, mostrando como o contrastre profundo entre a forma de vida de dois homens que se tornam amigos os muda. O narrador, sem abandonar o seu intelectualismo, rende-se à vivacidade de Zorba, e este, sem perder a sua explosiva personalidade, deixa de temer as ideias mais profundas que a aparente simplicidade da sua forma de vida finge ignorar.

O livro não é um romance delicado. Pode trazer-nos à imagem uma certa visão idílica da Grécia, herdeira romantizada da antiguidade clássica, mas na verdade o romance é implacável com o povo grego, mostrando-o pobre, supersticioso e violento no retrato que faz das terras cretenses onde se passa a história. É mais um elemento contrastante, a dura realidade que molda o espírito de quem a vive confrontada com a visão romântica sobre um povo. Mas não são visões simplistas, o livro não se fica por retratos superficiais. 

Terminada a leitura, o que mais nos fica é a inefável sensação de vivacidade, da descrição de Kazantzakis da forma de viver de Zorba - o constante anelar por aventura, a incapacidade de assentar raízes, a eterna sedução feminina, a forma como os temores são dispersos com gargalhadas, a vontade quase cega de arriscar tudo e, se se perder, rir e seguir em frente. É a visão romântica da vida no estado puro, nómada e aventureira, de enfrentar a complexidade com simplicidade, de nunca cessar o deslumbramento, de dar primazia às emoções.  Podia terminar com a tentação de escrever que este romance caracteriza o espírito grego. E, por acaso, alguns dos que conheço têm em si o olhar e traços de personalidade que espelham a vivaciade de Zorba. Mas isso é uma visão simplista, que não faz jus quer ao povo, quer ao livro.