quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Daredevil by Frank Miller & Klaus Janson



Frank Miller, et al (2008). Daredevil by Frank Miller & Klaus Janson, Vol. 1. Nova Iorque: Marvel Comics.

Foi nas páginas de Daredevil que a carreira de Frank Miller se lançou. Quando chegou ao título, este era um banal comic de super-heróis, não aproveitando as especificidades do personagem em histórias que se mantinham na continuidade de luta contra super-vilões. Miller percebeu que havia ali pano para outras aventuras, modificando o personagem de banal super-herói em direção ao policial negro. Em vez de lutas contra super-seres, Daredevil irá lutar contra o crime nas ruas degradadas da Nova Iorque dos anos 80. Sendo um comic de super-heróis, Daredevil ganhará inimigos de uniforme, mas estes aspectos estão subordinados a uma narrativa maior de luta de um indivíduo contra o omnipresente crime, simbolizado pela figura opressiva de Kingpin, tão poderoso que nem precisa de eliminar o herói que contra ele trava um combate sem fim.

Miller também aprofunda quer a personagem de Daredevil, desenvolvendo bem o seu lado Matt Murdock, quer os personagens secundários que irão desempenhar papéis cada vez mais fulcrais nos arcos narrativos. Essencialmente, traçou as linhas que passaram a distinguir este personagem, entre tantos outros da Marvel. Inicia aqui a relação complexa e assimétrica com Kingpin, a inimizade letal com Bullseye, bem como a influente saga de Elektra.

Ao longo destas páginas sentimos o desenvolvimento de Miller como ilustrador e argumentista, começando pela simples ilustração até à progressiva evolução do seu traço estilizado. As sementes do estilismo iconográfico de alto contraste de Sin City são visíveis nestas páginas de Daredevil. Também, a forma como evolui no contar de histórias, notando-se progressivamente que desenvolve a banda desenhada como arte narrativa. Miller vai-nos dando sequências assombrosas de vinhetas, trabalhando com justaposições, enquadramentos, linhas de força e pesos visuais para guiar o olhar do leitor. A história conta-se não só com as palavras e os desenhos, mas fundamentalmente pelo dinamismo com que o olhar é conduzido, dando maior dramatismo à narrativa. Algo que distingue os melhores contadores de histórias da BD, uma preocupação que não era à altura muito comum no mundo dos comics.