quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Valérian #02


Pierre Christin, Jean-Claude Meziéres (2017). Valérian Volume 2. Lisboa: Asa.

Na eterna questão de apontar a influência desta série em Star Wars de George Lucas (algo que o realizador, tanto quanto sei, nunca negou nem confirmou), estes dois álbuns têm elementos iconográficos que podem ter inspirado claramente a série cinematográfica. Em O Império dos Mil Planetas, temos entidades poderosas mascaradas debaixo de pesados capacetes, Valérian é mergulhado num material para ser interrogado (demasiado similar ao congelamento criogénico de Han Solo numa placa para ser coincidência), há navios com velas solares e fortalezas no deserto similares ao que no episódio IV da série é a fortaleza de Jabba the Hut. Já O País sem Estrela dá-nos a imagem de uma Laureline vestida com um bikini dourado decorado com padrões barrocos, muito próximo daquele vestido pela princesa Leia, imortalizado em The Empire Strikes Back. Note-se que numa equipa de produção cinematográfica, as influências visuais de Valérian talvez tenham sido canalizadas por Ralph McQuarrie para o trabalho de Lucas. Este é um dos mistérios da cultura pop, mas com indícios visuais tão óbvios que é impossível não perceber a sua relação intrínseca.

O Império dos Mil Planetas: é com este volume que a série se afirma como uma obra marcante no domínio da FC. Esta é uma história de Space Opera pura, com os agentes Valérian e Laureline a ir investigar o sistema planetário de Syrte, que assumem desconhecer o império terrestre, deparando-se com uma exótica civilização alienígena. Syrte gira à volta de um imenso mercado, ponto de encontro das espécies do sistema, mas a sua civilização parece decadente, sob domínio da casta dos Conhecedores, que usam o seu saber médico e psicológico para dominar os syrtianos e têm um ódio especial à Terra. Envolvidos nas lutas pela libertação planetária, organizadas por mercadores descontentes com o retrocesso trazido pelos Conhecedores, acabam por descobrir que estes são os sobreviventes de uma nave terrestre perdida no espaço, quase imortais pelo efeito de uma substância encontrada no planeta onde a sua nave se despenhou. Pura aventura em modo space opera exótica, originalmente publicada em 1969.

O País sem Estrela: de visita ao sistema de Ukbar (ah, as referências borgesianas), Valérian e Laureline descobrem uma ameaça estelar: um asteróide enorme, em rota de colisão com estes planetas, onde vivem colonos terrestres. Uma ida ao corpo celestial revela um novo mistério. O planetóide é oco, com um sol interior, e dentro dele existe vida e uma estranha civilização, que vive numa eterna guerra civil. Um dos países, dominado pelas mulheres, luta constantemente contra o outro, dominado pelos homens. Vivem esta luta milenar sem qualquer consciência que existe um universo exterior, e as explosões contínuas da batalha são o que desvia o planeta errante da sua órbita e o colocam em rota de colisão com o sistema de Ukbar. Para travar a ameaça, sem o genocídio dos habitantes do interior do planetóide Zahir (claro, e só falta aqui um aleph), Valérian e Laureline vão ter de encontrar uma forma de terminar o longo conflito que opõe a matriarquia à patriarquia, algo que se consegue com alguma sedução, soporíferos pesados e uma viagem dos líderes ao espaço exterior, para descobrir que o universo não termina nas fronteiras do interior do seu planeta. Novamente, space opera de aventura em cenários exóticos. Obra originalmente publicada em 1970.