quinta-feira, 22 de março de 2018

O Infante Portugal e a Íntima Capitulação


José de Matos Cruz (2010). O Infante Portugal e a Íntima Capitulação. Lisboa: Apenas Livros.

Recordei-me de uma edição do Fórum Fantástico onde o autor deste livro foi apresentá-lo. Despertou-me alguma curiosidade, com a utilização de simbologia portuguesa em contextos fantásticos, mas não cheguei a trazer nenhum dos seus livros. A coisa ficou perdia na memória, mas esta ao funcionar dá-nos algumas surpresas. Como quando, a vasculhar um caixote de livros semi-abandonados numa livraria, me deparei com este livro e o identifiquei. No entanto, após a leitura, gostaria muito que os neurónios não tivessem disparado nesse momento.

Há que desconfiar quando um livro se assume como "iniciático". Lá vem aquele dito saber esotérico, assumidamente obscuro e carregado de significados perceptíveis apenas pelos iniciados. Frases em que uma só palavra pode significar livros inteiros (geralmente mal escritos, onde reina a ilógica e associação de ideias). Há quem consiga fazer isso bem, transformando a tradição esotérica em boas histórias. António de Macedo é talvez o escritor cuja obra melhor representa esta ligação. Não é, de todo, o caso deste Infante de Portugal, livro de vinhetas escritas em prosa gongórica que é completamente incompreensível. Eu sei, têm razão, a coisa é "iniciática", só os iniciados é que têm capacidade de compreender a profundeza de significados que escapam aos meros mortais ignorantes. A falha de compreensão é minha, notoriamente.

Ou então isto é mesmo o que é. Um texto incompreensível, espelho de uma filosofia obscurantista sem qualquer base tangível. Uma história oca, escrita numa prosa filigranada de tanta elaboração, que ajuda à incompreensibilidade do texto. O único elemento interessante do livro são as ilustrações, de alguns dos mais conceituados desenhadores de banda desenhada portugueses. Suspeito que estes tenham baseado o seu trabalho em descrições do autor, porque ler este livro, é missão impossível. E de profundo masoquismo, sublinhe-se.